quinta-feira, 5 de julho de 2012

Jurassic Park - Caos Continental (Prólogo)


Carne Nova no Cardápio


     
     O helicóptero seguia baixo em alto mar, o vácuo e a ventania de suas hélices e motor atormentavam as águas que refletiam a luz amarela do sol.
     Havia vinte minutos desde que deixaram o heliporto de Puerto Cortés, depois de muito esperarem por Diego, o guia. Diego era um rapaz de vinte e três anos, moreno, queimado do sol e já tinha estado quatro vezes em Isla Sorna, mas nunca arriscara-se a adentrar a selva sinistra.

     Pertencia ao povo local da região montanhosa da costa, uma comunidade crente em mitos e lendas nativas e que chamavam o arquipélago de “Las Cinco Muertes”.
     Inúmeros rumores rondavam seu povo: “um conhecido meu desapareceu em Las Cinco Muertes!”, “meu tio atreveu-se a ir lá após perder uma aposta no baralho, nunca mais foi visto. Culpam a bebida por isso.” Bastava uma pequena roda de amigos, e lá estava o assunto “Las Cinco Muertes”!

     Não saía da mente de Diego quando, após escalar as encostas da ilha, levando sua mochila e guiando um americano rico, algo os atacou enquanto repousavam às margens de um riacho. Não conseguira ver o animal, apenas ouvira um estranho rugido e o berro ensurdecedor do americano, que foi se distanciando... Sem pensar duas vezes, Diego correu sem sequer olhar para trás. Ele zarpou em seu pequeno barco de pesca. Estava sujo de barro e com rasgos na roupa, tremia e murmurava suas rezas. Retornou à costa sozinho naquele dia. Ninguém duvidava das causas das mortes que ocorriam naquele arquipélago...

     Depois do episódio em San Diego, o governo da Costa Rica obrigou-se a restringir visitas às ilhas. Entretanto, mesmo sendo um projeto secreto, as notícias das ilhas com os dinossauros se espalharam rapidamente pelo globo. Muitos foram contidos... Mas, não tiveram como conter o grupo que se encontrava no helicóptero. 

     Mesmo que não tivessem conseguido uma autorização e passado pela burocracia assumindo todas as responsabilidades, iriam para lá como clandestinos. Estava fora de seus propósitos não verem o que era seu maior sonho. Paleontólogos, como o respeitado Dr. Alan Grant, que se recusara a participar do projeto, estavam ali presentes. James Williams, 32 anos, saíra rapidamente do anonimato do mundo acadêmico com suas pesquisas de extração de DNA de fósseis bem conservados de pterossauros na Chapada do Araripe. Junto com a equipe brasileira de paleontólogos, conseguira aumentar consideravelmente a coleção de fósseis do país. 



George Kaplan, que estudara com Dr. Grant no passado e havia se especializado em hadrossaurídeos, deixara um sítio recém-descoberto no interior da Mongólia com dezenas de ninhos e ovos de uma aparente nova espécie de hadrossauro, para estar no grupo desautorizado a entrar em Isla Sorna. Hanna Morris se apaixonara por dinossauros desde o grande sucesso no cinema do filme Terror Jurássico, do diretor Steve Stevenson, o que a motivara, desde a adolescência a trabalhar como voluntária em algumas escavações. 


Hoje, aos 30 anos, tinha ficado famosa ao descobrir evidências de melanossomas em um novo fóssil de Velociraptor com possíveis plumagens, o que poderia levar à descoberta da real cor desses animais. Gabrielle Rice, a mais jovem do grupo, deixara o estereótipo de loira desejada ao ter seu projeto de inversão de espécies de aves em dinossauros aprovado pelo grupo de pesquisas genéticas e biologia molecular do Smithsonian. Seus primeiros testes já tinham data marcada para iniciar. Mesmo que sua pesquisa apresente resultados finais positivos, ela sabia que, no fundo, não seria um dinossauro genuíno, assim como os da InGen também não eram.

     E o último do grupo era o biólogo francês Laurent du Lac, autor do livro “A Migração da Ararinha-Azul Brasileira”. Junto com James Williams, já haviam discutido o assunto “Sítio B” quando estiveram no Brasil.
     A sorte havia sorrido para o grupo quando puderam contar com a companhia de Marty Guitierrez, que contatara Alan Grant após o incidente no Jurassic Park, enquanto todos os envolvidos não podiam sair da Costa Rica. Guitierrez foi o primeiro de fora do projeto a ficar ciente da existência dos dinossauros ao encontrar próximo à praia, um exemplar de Procompsognathus triassicus. Depois disso não descansou até poder visitar a ilha e nem pensou em recusar a proposta. 



Após dezesseis anos teria a chance de ver e estudar os animais que há muito estavam extintos, e que parecia que estavam ali, vivos e se reproduzindo! Guitierrez não conseguira arrancar muita coisa do Dr. Grant, afinal, todos os envolvidos foram obrigados a assinar um termo que proibia a divulgação dos verdadeiros fatos. Mas ficara sabendo que muitas espécies haviam sido recriadas. Espécies incrivelmente maiores e mais ferozes do que o espécime descoberto por ele.

No fundo, isso não o preocupou. Trabalhava há muitos anos como guarda de caça na reserva em Cararas. Estava acostumado a passar longos períodos no meio da floresta e tinha experiência em sobrevivência na selva.Era bom ter um homem assim por perto, afinal, afora o francês, todo o restante do grupo trabalhava praticamente no meio do deserto, ao relento e cavando a terra. Marty Guitierrez trabalhava com uma arma, os cientistas com um cinzel. 


     Ouviram a voz do piloto dizendo que em poucos minutos estariam se aproximando de Isla Sorna. Seriam deixados no heliporto do prédio de comunicações da arruinada InGen, na Vila dos Trabalhadores. A partir daquele local, poderiam seguir para qualquer ponto da ilha seguindo as precárias estradas ruídas pelo tempo. Hanna ficou olhando enquanto o helicóptero sumia sobre as copas das árvores causando um forte vendaval que espalhara folhas e muita poeira. 


     A equipe combinou que o piloto voltaria para pegá-los no dia seguinte às dezessete horas. O grupo permaneceria na ilha por trinta e duas horas. Teriam muito que caminhar e ainda procurar um lugar para passar a noite. Com certeza não permaneceriam na vila, pois queriam chegar logo ao descampado e ver os animais de longe antes de uma aproximação.


Estavam todos eufóricos. O maior sonho de suas vidas poderia ser realizado a qualquer instante. Com suas mochilas nas costas, seguiram para o interior da ilha por uma estrada com alguns sinais de pavimentação. O mato havia reestabelecido seu lugar.


Apesar de Diego não ter estado naquela parte da ilha antes, era importante para a equipe um nativo habituado àquele tipo de ecossistema de clima tropical. Mais à frente a passagem foi interrompida por um grande deslizamento de terra, e teriam que entrar na floresta para cortar caminho. Os imprevistos começavam...
     Avistaram uma grande clareira que fora aberta na vegetação, criando um túnel feito de mato, folhas amassadas e pequenas árvores derrubadas.

     - Padrão de animais andando em fila indiana. – comentou Laurent.
     - Com toda a certeza são herbívoros – sentenciou Willams, agachado ao lado de uma pegada.
     - Essa trilha parece ser usada com freqüência – disse o guarda de caça- Não me espantaria se topássemos com algum animal no meio do mato logo à frente. Mesmo animais de grande porte podem se camuflar na floreta.

     Gabrille, no final da fila, sussurrou assustada:
     - Pessoal, prestem atenção! — todos pararam. Imóveis.


     O vento trouxe o som inconfundível de uma respiração profunda, como se algo os espreitasse detrás das folhas úmidas. Diego levou a mão suada sobre o rosto pálido no mesmo instante em que um frio lhe corria pela espinha. Já havia sentido esse pavor antes. Não havia como esquecer.

Continua...

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