terça-feira, 24 de julho de 2012

Crônicas de Volta - Capítulo I

A Nova Era das Sombras  

     Vinha o infante correndo pela estrada de terra, debaixo de chuva torrencial onde os pingos de água atingiam bravamente sua face surrada da grande batalha de outrora. Tempos de trevas engoliram o mundo de Volta depois que a Peste Divina derrubou os três Reis Magos, acima dos Reinos Médios... as coisas mudaram drasticamente. Tilslore, O Expulso, levantou-se de seu covil situado em Svart Jord, na borda mais íngreme de Volta, onde a Cascata de Fogo se precipita e o deus dragão Branngud engole todas as coisas maléficas do mundo. Tilslore era um mago da linhagem divina, portanto, achava-se no direito de resguardar os tronos e governar os reis médios de Volta. Entretanto, a humanidade pôs-se em resistência, pois Tilslore era um legítimo servo do mal, cujo em tempos distantes tentara tomar para si o poder dos Reis Magos, sendo impedido de tal atrevimento e posto em julgamento. Fora expulso e chamado assim por todas as línguas: O Expulso.
      Tilslore, O Expulso. Seu cajado é feito da madeira da 
      Árvore da Morte, cujos espíritos inquietos adormecem.
      A gema luzente, fora roubada do próprio Branngud, 
      eras atrás. Ela está envolta às garras de um dos filhos do 
      deus dragão, morto pelo próprio Mago das Trevas sob 
      o auxílio de Skygge.             
     Tilslore era servo de Skygge, A Sombra. Uma entidade que vagava por todas as terras em busca dos Perdidos - ladrões, estupradores, assassinos, corruptos -, qualquer tipo de criatura predisposta ao mal era pega por Skygge e então dominada, forçada a viver uma vida de escravidão eterna, mesmo após a morte os possuídos eram influenciados pelo espírito maligno e cometiam inúmeras atrocidades pelo mundo.
     A morte dos Reis Magos tornou Tilslore a criatura mais poderosa de Volta. O Mago das Trevas reuniu, então, sua corja de bruxos negros e por meio de Magia Escura evocou as mais terríveis criaturas que já existiram. Hordas de orcs, exércitos de mortos-vivos, gigantes de gelo e de fogo, anões, elfos e homens corrompidos pelo nefasto ser das sombras Skygge.
     Os reinos já se viam divididos dada a terrível situação causada pela morte dos Reis Magos, desta forma, Tilslore não encontrou grandes desafios para alastrar sua ocupação, a não ser pelas milicias que se levantaram após a queda dos principais reinos médios.

     Era jovem o rapaz que marchava na chuva. Ofegava como se há muito estivesse correndo, ou melhor, fugindo. Consigo, carregava uma pequena mochila tiracolo. Havia algo de extrema importância dentro , do qual mudaria o curso da história e poria fim nas atrocidades do Mago das Trevas.
     Holger era seu nome. Era humilde e franzino, mas nobre de coração. Estava a serviço de um poderoso guerreiro, conhecido em toda Volta: Kristof de Astar Niga, situada ao pé da Montanha do Céu, cujo no cume assentava-se o Palácio Celestial - morada dos três magos. Kristof, conhecido por domar dragões alados, fora subjugado pelo próprio Tilslore. Sua morte definitivamente desmoralizou os exércitos da resistência, fazendo as tropas se dispersarem ou até mesmo influenciando a deserção de muitos soldados. Todavia, deserção não era o caso de Holger. O garoto via-se numa importante missão. Seu mestre e mentor Kristof, havia lhe entregue um objeto iluminado e em extremo segredo, o ordenara que viajasse para o sul, além de qualquer reino conhecido. Contou o cavaleiro que, lá, Holger se depararia com uma antiga floresta, cujo nome não o revelara, mas disse que o escudeiro a reconheceria assim que a encontrasse. Pediu cautela e lhe alertou de criaturas mágicas, misteriosas e antigas que encontraria em sua jornada.
     Holger saiu da estrada, pois temia um bloqueio. Embrenhou-se no mato escuro, apenas guiando-se por meio de seus sentidos apurados. Os únicos ruídos que ouvia, eram o tamborilar das águas em precipitação e seus esbarrões nos ramos de plantas, seguidos de suas passadas rápidas. Os ecos da aterradora batalha pelo reino de Knust Stein foram deixados para trás, assim como toda a esperança do mundo.
     O jovem desbravara a floresta por toda a madrugada. Era manhã de sábado, embora ainda houvesse tamanha escuridão por conta da terrível Sombra da Morte, Skygge. Diante do caudaloso rio Helga, Holger parou estarrecido. Respirava com tremenda exaustão pela longa marcha a noite. Não havia mais chuva. Sobre os cascalhos da margem do rio, olhou para os lados tentando buscar alternavas para atravessá-lo. Sabia que havia uma ponte há poucos quilômetros, no entanto, ir até ela estava fora de cogitação, pois sua vigilância pelos agentes das trevas era certa. Aquelas terras eram um tanto desconhecidas pelo corajoso rapaz. Todavia, explorador que era, Holger não se deu por satisfeito e começou a caminhar beira-rio. Claro que seu destino era contrário a ponte que o cruzara ligando a capital do reino. Holger estava convicto que algum fazendeiro construíra em um ocasião qualquer uma ponte para travessia. Coisa muito óbvia, já que uma única ponte para usufruto de um reino inteiro atrasaria muito as movimentações comerciais.
     Enquanto caminhava, observou coisas estranhas descerem rio abaixo. Parou e observou. Eram corpos. Pessoas mortas e então descartadas como animais imprestáveis. Internamente, o jovem, apavorou-se. Aquela gente não se tratava de soldados, mas sim, de humildes camponeses. Velhos, crianças, mulheres... os homens com melhores condições físicas haviam sido enviados a guerra. Aquilo era assustador. Holger hesitou em profundo dilema. Aqueles corpos na água eram indícios de algum vilarejo e provável meio de travessia do rio adiante. Todavia, eram indícios de tropas escuras. Visto que não tinha qualquer escolha, resolveu manter o curso. Talvez as tropas só estariam de passagem, pensou. De qualquer forma, faria de tudo para se manter desapercebido no terreno.
     Havia sinal de fumaça sobre as copas dos pinheiros. Mais adiante, uma balsa amarrada num pequeno deck. Holger apurou a visão. Aparentemente, não havia sinal de vida. Próximo ao local, fora rastejando até alcançar a corda que prendia a balsa. Um pouco a leste, casas queimadas suspendiam fumaça de um incêndio anterior. O garoto concentrou-se em somente trazer o transporte para si. Vagarosamente subiu a bordo e remou até a outra margem. De olhos no vilarejo, pensou ter visto um morto-vivo. Aquilo o fez arrepiar-se. Jamais tinha visto uma criatura daquela, apenas ouvia as histórias dos guerreiros veteranos, grandes expedicionários que lutavam mundo afora pela liberdade de Volta. Seu próprio mestre o havia contado sobre umas das mais horripilantes criaturas do mal, cuja espada não os matava, nem sequer arrancando-lhes a cabeça. Eram de fato aterradores e assombrosos. Holger escolheu esquecer-se do que havia pensado ter visto e também lembrado. Tais histórias não eram nada encorajadoras numa ocasião como aquela. Na verdade, tentava recordar-se de histórias heroicas do passado, mas as circunstâncias o impediam. Preferiu, então, somente pensar no agora.
     Havia um mundo macabro pela frente. Junto de si, uma relíquia misteriosa, da qual somente os mais sábios e antigos seres tinha ciência de sua existência. Holger tentava imaginar o que encontraria na longínqua floresta ao sul, no entanto, era praticamente impossível. Kristof, nada o revelara. E na verdade, o lendário guerreiro, prevendo sua morte, confiou o objeto ao improvável escudeiro. Kristof era o verdadeiro encarregado da missão, até tudo sair errado. O guerreiro, porém, não previu que entregar o artefato nas mãos do anônimo Holger, não o deixaria a salvo. Tilslore era poderoso na arte da magia. Tinha inúmeros servos e era aliado ao espírito do mal Skygge, portanto, seus olhos estavam em cada canto do mundo.
     O vento gélido começou a soprar. Os rumores sobre o jovem que carregava consigo a relíquia mágica já se viam nos ouvidos das criaturas das trevas e, então, iniciou-se a caçada. Mas, havia luz ao sul... da antiga floresta, um bem há muito esquecido, conspirava a favor do jovem Holger, sem nem sequer o garoto imaginar, embora, o perverso Tilslore desconfiasse de algo. Porém, tal poder era tanto perante a Magia Negra, que o Mago das Trevas não ousou perturba-lo, por pensar que tal magia dormia profundamente, fazendo com que não causasse qualquer tipo de problema a si. Estava enganado! Havia um quarto membro além dos três... uma criatura tão antiga e tão improvável, que foi mantida em sigilo pelos Reis Magos conforme as ordens divinas do Pai Celestial. A criatura, o ser mais próximo ao que era considerado divino, fora forjada da Luz de Prata encontrada no interior do coração do Grande Far, Senhor do Universo. Desta forma, os Reis Magos se referiam a ela como A Feiticeira de Prata!
     Holger pisou os pés do outro lado do rio. Uma força inesperada e misteriosa o havia tomado de repente. O cansaço se esvaiu. Os olhos brilharam em esperança. Pela primeira vez em dias, o jovem sentia-se observado e resguardado por uma magia benéfica. Sabia de alguma forma que estava blindado contra os ataques das trevas. E de fato, não somente criaturas malignas cruzariam seu caminho, mas também criaturas de luz... antigos guardiões da esperança! Seres esquecidos pelas areias do tempo. Cavaleiros que lutaram em guerras imemoráveis. Tudo estava para acontecer. E no fundo, Tilslore armazenava uma angústia miserável. Retornou, então, as terras sombrias de Svart Jord afim de aprofundar-se em conhecimento para combater a possível ameaça. Profecias estavam para ser reveladas... a Magia Negra via-se comprometida!





Continua...

     








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