domingo, 29 de julho de 2012

Diário: Neo Fauna 1#


"O grande predador dos bosques do planeta Olympus II. O nosso primeiro registro dessa besta colossal, foi proximo ao pântano de Lógrin, espreitando sua presa, um Torvosuchus. Não ficamos para  observar seus métodos de caça pois estávamos com outras prioridades, buscando provisões."

Dr.Jonhson Bakker

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Crônicas de Volta - Capítulo II


O Sacrifício da Donzela Virgem      

     Era uma figura macabra, envolta a uma capa escura repleta de retalhos. Um capuz emergia nas sombras a face velha e enrugada. Havia um forte odor de enxofre expelido pelo ser. Era alto e caminhava altivo, como um legítimo cavaleiro. Na escuridão de seu imenso castelo, sussurrava algo numa língua esquecida por todos. Apenas os mais antigos seres de Volta a conheciam. Havia, no centro do salão, um cajado fixado no chão pedregoso. A luz tênue de sua gema incandescente, iluminava consideravelmente o ambiente sinistro. As paredes eram preenchidas por estranhas pinturas. Ilustrações desgastadas que retratavam as guerras do passado distante do mundo. E, uma delas, chamava bastante atenção. Na pintura, estavam Vann, guardião da água,  Is, guardião do gelo, Ark, guardião da terra e Brann, guardião do fogo. Brann era o antigo nome de Tilslore, antes deste cair em desgraça. O Mago das Trevas, fora um dia um ser iluminado, que caminhava ao lado dos homens e os aconselhava. Era o mais poderoso dos Reis Magos... seu poder fora concebido pelo próprio deus dragão Branngud que, no entanto, fora enganado pelas mentiras do mago e teve um de seus ovos roubado para a construção de um novo cajado, tão poderoso quanto os três cajados unidos de seus companheiros. Então, num tremendo ato de ambição e cobiça, Brann, traiu os Reis Magos de Volta, numa tentativa de assassinato, do qual com muito esforço fora impedida. Todavia, o agora Tilslore, exilou-se na tentativa de escapar do castigo severo que receberia. O novo inimigo, portanto, não aquietou-se e uniu as forças do mal que, enfim, acabaram com o reinado de luz. Com os três Reis Magos fora de seu caminho, nada impediria Tilslore de dominar Volta. Eis a guerra, até então...

     Sobre um altar de rochas negras, uma jovem mulher deitada. Era divinamente bela. Os cabelos longos eram dourados, assim como era o sol da tarde pouco antes de se por. A pele, como seda, era branca e as maçãs do rosto coradas de tom semelhante ao dos lábios cheios. Ela estava nua. Os seios não eram muito fartos, mesmo assim, em nada deixavam a desejar com toda sua formosura e perfeição. Cada milímetro de seu corpo era dotado de caprichos. faria qualquer homem cair aos seus pés e implorar por sua mão em casamento, sem nem sequer pestanejar. A moça se via irrequieta sobre a mesa de pedra. Dormia, no entanto, gemia e se mexia, como se estivesse mergulhada em um terrível pesadelo. Murmurava palavras incompreensíveis. Estava dopada por magia.
     Tilslore aproximou-se da garota. Em uma das mãos, empunhava firme uma adaga de lâmina negra. Encostou a ponta do metal frio no pescoço da adormecida. Fora, então, deslisando a arma afiada, passando por entre os seios e, então, o umbigo, até chegar nos pelos aveludados de sua vulva. A moça continuara a dormir. O mago proferia palavras sinistras com sua voz rasgada. Era um feitiço poderoso do qual faria seus poderes duplicarem. Tilslore pousou uma das mãos sobre o ventre da jovem. Disse algo em idioma desconhecido. Algo que a fez abrir as pernas. Tilslore, portanto, introduzira vagarosamente a adaga na genitália da pobre moça. Devido sua virgindade, não demorou em nada para o sangue jorrar. O mago suspendeu a mão que repousava sobre o ventre da moça, ao mesmo tempo de sua voz aumentava e novas palavras saíam de sua boca amaldiçoada. Finalmente, espíritos malignos apareceram no grande salão escuro. Eram como sombras aladas, há muito perturbadas. Voavam em círculos em volta do cajado.
     A jovem adormecida respirava ofegante, como se a lâmina em sua vagina a desse prazer ao invés de dor. O mago já havia introduzido até a metade, e o sangue continuou a jorrar. Escorria por meio de canaletas que iam do altar, até o cajado fincado no meio do salão. A aquela altura, um tremendo vendaval tomava conta do local e havia um coro de vozes desesperadas que pareciam suplicar por misericórdia. Tilslore ritualizava para tornar-se o ser das trevas mais poderoso de Volta. Sua ambição era superar até mesmo os poderes de Skygge; ansiava pelos poderes divinos reservados somente aos deuses celestiais. O Mago das Trevas não se contentaria somente com o domínio de Volta, oh, não! Sua confiança era tamanha que cultivou dentro de si, o desejo de alcançar os céus... até mesmo o palácio do Pai Celestial, O Todo-Poderoso.
     Tilslore cantava suas palavras com extremo ódio. A jovem parecia chorar, porém, desta vez, de verdadeira dor. A mesma abriu, de repente, os olhos azuis. As pupilas se contraíram subitamente, como se realmente tivesse despertada de um aterrador pesadelo. A moça chorava como criança. O vendaval cessou e os espíritos se aquietaram. Ouvia-se, no grande salão escuro, somente o choro e os soluços desesperados da jovem garota. Custou a ela perceber que tudo aquilo era real. Respirou o ar gélido daquele lugar horrível, sentiu a superfície áspera da mesa de rocha onde estava deitada e testou os movimentos das mãos e dos pés mexendo os dedos. Por um instante, o choro cessou. Havia somente alguns soluçares. A visão, outrora turva, apurou-se no escuro. Inclinou sutilmente a cabeça para sua direita. Notou a estranha figura de um homem alto do seu lado. Havia um forte odor de enxofre saído de sua túnica negra. A face do mago estava descoberta. Pele pálida e enrugada, uma feição fria como a morte. Sobrancelhas fartas projetavam-se sobre os olhos negros. 
    
     - M... me a... jude... - murmurou a garota pegando em seu braço frio.
     
     Tilslore esboçou um sorriso diabólico. O mago apontou com os olhos para a região genital da jovem, que, se esforçou para olhar. Percebeu a nudez e o sangue. Tilslore movimentou a adaga com tamanha sutileza, mas a ponto de a mulher perceber que aquilo estava dentro de seu corpo. Ela, novamente entrou em desespero. Tilslore voltou ao seu estado de fúria e, antes que a garota esgoelasse, tampou sua delicada boca com a mão que estava livre, de forma a empurrar a cabeça da jovem contra a rocha num forte baque. Ela começou a debater-se em absoluto desespero. Relutava para sair daquela grotesca situação. O cruel mago pressionava com mais força a cabeça da garota contra a rocha, agravando mais ainda a lesão na parte posterior do crânio
     O Mago das Trevas aproximou o rosto com o da jovem. Lambeu o sangue que vazava de sua cabeça e sussurrou algo em seu ouvido. Ela aquietou-se, como se novamente, em estado de transe. Tilslore livrou sua boca e a beijou. Um ar escuro e sinistro entrou na doce boca da jovem. A adaga fora introduzida por inteira na vagina, até atingir o útero e emergir para fora do ventre, formando um chafariz de sangue. Os olhos da desconhecida jovem perderam o brilho. As pupilas dilataram-se e ela dera seu ultimo suspiro.
     Tilslore lambeu o sangue da adaga negra. Aguardou todo o fluído se evadir do belo corpo deitado sobre o altar de pedra. Cobriu novamente a face com o capuz e dirigiu-se ao cajado. Ao segura-lo, sentiu o novo poder... a magia era poderosa. Mesmo assim, insuficiente. Tilslore buscaria mais. Porém, era sábio suficiente para ter em mente que tudo aconteceria no seu devido tempo e com enorme cautela.

*****

     Holger amanhecera com uma estranha sensação em seu décimo oitavo dia de jornada. Embora se sentia sortudo em não deparar-se com nenhum perigo eminente, uma angústia sinistra o perturbava naquela manhã. Aprontou suas coisas sem dar muita importância para aquilo. O rapaz estava faminto, portanto, apanharia algo no caminho. Holger não queria gastar seu tempo caçando nenhum animal, desta forma, pensava ser mais econômico colher frutos de pomares que encontrar no acaso. Apesar de não estar seguindo por nenhuma estrada, sabia que estava próximo a Gronngard, terra de grandes produtores agrícolas, portanto, a qualquer momento encontraria alguma fazenda onde poderia saciar-se num farto banquete.

     Era meio-dia, quando o jovem escudeiro ouvira passos em sua retaguarda. A floresta era silenciosa e as copas das árvores quase cobriam a luz do sol. Holger estava desprovido de qualquer arma, limitando-se somente a uma pequena faca que, nem sequer estava amolada. Mas era o que tinha para o momento. Continuou a caminhar, apesar de desacelerar sutilmente. A faca estava empunho. Os ouvidos bem apurados. Virou-se!

     - Aaaahh!!! - Holger gritou em fúria com a faca suspensa, mas parou de repente, pois fora surpreendido com um ser inusitado.
     - Por favor, não me faça mal! - quem suplicou fora uma jovem fada de asas quebradas e com metade do tamanho do garoto.
     
     Holger a observou como se a contemplasse. Mesmo maltratada e ferida, sua beleza ainda era digna de apreciação. Era somente uma criança perdida. Holger jamais havia ficado diante de um ser tão belo e tão raro como aquele. Ambos entreolhavam-se sem falar nada. Holger somente a observou. A criatura tinha cabelos verdes como a grama, olhos de mesma cor e dois pares de asas como de libélulas, porém, quebradas. A pequena fada disse-lhe que já seguia Holger havia três dias. Estava perdida, pois contou que seu reino, oculto na floresta, havia sofrido um ataque de orcs. A fada revelou a Holger seu nome: Kaira. O jovem, comovido por suas condições e "enfeitiçado" com sua beleza, a aceitou como companhia, ainda mais por conta de suas habilidades místicas e seus conhecimentos em relação aos segredos da floresta, pois, Kaira, pertencia a uma raça ligada fortemente a magia de Ark, o Rei Mago guardião da terra. Além de tudo, Kaira conhecia a floresta misteriosa do sul, onde morava a lendária feiticeira. A pequena fada sabia até como a chamavam nas antigas canções.... era Radias, a guardiã do raio!

Kaira pertence a raça das Fadas da Floresta. É ainda uma criança entrando na fase da puberdade. Seu reino fora devastado por um exército de orcs. A pequena fada fugira antes de tudo terminar. Não se sabe ao certo se seus pais sobreviveram ou se foram levados como prisioneiros para Svart Jord com a intenção de serem convertidos as legiões do escuro. As Fadas da Floresta são conhecidas por suas habilidades para com a natureza. Acredita-se que o próprio mago Ark as criara nos primeiros anos de Volta. Também não se sabe ao certo a idade dessas criaturas, pois os relatos em relação a elas, são escassos. É provável que Holger seja a primeira criatura fora da floresta a manter contato com uma fada, desde a guerra que culminou na queda dos Reis Magos.



Continua...
     
     








terça-feira, 24 de julho de 2012

Crônicas de Volta - Capítulo I

A Nova Era das Sombras  

     Vinha o infante correndo pela estrada de terra, debaixo de chuva torrencial onde os pingos de água atingiam bravamente sua face surrada da grande batalha de outrora. Tempos de trevas engoliram o mundo de Volta depois que a Peste Divina derrubou os três Reis Magos, acima dos Reinos Médios... as coisas mudaram drasticamente. Tilslore, O Expulso, levantou-se de seu covil situado em Svart Jord, na borda mais íngreme de Volta, onde a Cascata de Fogo se precipita e o deus dragão Branngud engole todas as coisas maléficas do mundo. Tilslore era um mago da linhagem divina, portanto, achava-se no direito de resguardar os tronos e governar os reis médios de Volta. Entretanto, a humanidade pôs-se em resistência, pois Tilslore era um legítimo servo do mal, cujo em tempos distantes tentara tomar para si o poder dos Reis Magos, sendo impedido de tal atrevimento e posto em julgamento. Fora expulso e chamado assim por todas as línguas: O Expulso.
      Tilslore, O Expulso. Seu cajado é feito da madeira da 
      Árvore da Morte, cujos espíritos inquietos adormecem.
      A gema luzente, fora roubada do próprio Branngud, 
      eras atrás. Ela está envolta às garras de um dos filhos do 
      deus dragão, morto pelo próprio Mago das Trevas sob 
      o auxílio de Skygge.             
     Tilslore era servo de Skygge, A Sombra. Uma entidade que vagava por todas as terras em busca dos Perdidos - ladrões, estupradores, assassinos, corruptos -, qualquer tipo de criatura predisposta ao mal era pega por Skygge e então dominada, forçada a viver uma vida de escravidão eterna, mesmo após a morte os possuídos eram influenciados pelo espírito maligno e cometiam inúmeras atrocidades pelo mundo.
     A morte dos Reis Magos tornou Tilslore a criatura mais poderosa de Volta. O Mago das Trevas reuniu, então, sua corja de bruxos negros e por meio de Magia Escura evocou as mais terríveis criaturas que já existiram. Hordas de orcs, exércitos de mortos-vivos, gigantes de gelo e de fogo, anões, elfos e homens corrompidos pelo nefasto ser das sombras Skygge.
     Os reinos já se viam divididos dada a terrível situação causada pela morte dos Reis Magos, desta forma, Tilslore não encontrou grandes desafios para alastrar sua ocupação, a não ser pelas milicias que se levantaram após a queda dos principais reinos médios.

     Era jovem o rapaz que marchava na chuva. Ofegava como se há muito estivesse correndo, ou melhor, fugindo. Consigo, carregava uma pequena mochila tiracolo. Havia algo de extrema importância dentro , do qual mudaria o curso da história e poria fim nas atrocidades do Mago das Trevas.
     Holger era seu nome. Era humilde e franzino, mas nobre de coração. Estava a serviço de um poderoso guerreiro, conhecido em toda Volta: Kristof de Astar Niga, situada ao pé da Montanha do Céu, cujo no cume assentava-se o Palácio Celestial - morada dos três magos. Kristof, conhecido por domar dragões alados, fora subjugado pelo próprio Tilslore. Sua morte definitivamente desmoralizou os exércitos da resistência, fazendo as tropas se dispersarem ou até mesmo influenciando a deserção de muitos soldados. Todavia, deserção não era o caso de Holger. O garoto via-se numa importante missão. Seu mestre e mentor Kristof, havia lhe entregue um objeto iluminado e em extremo segredo, o ordenara que viajasse para o sul, além de qualquer reino conhecido. Contou o cavaleiro que, lá, Holger se depararia com uma antiga floresta, cujo nome não o revelara, mas disse que o escudeiro a reconheceria assim que a encontrasse. Pediu cautela e lhe alertou de criaturas mágicas, misteriosas e antigas que encontraria em sua jornada.
     Holger saiu da estrada, pois temia um bloqueio. Embrenhou-se no mato escuro, apenas guiando-se por meio de seus sentidos apurados. Os únicos ruídos que ouvia, eram o tamborilar das águas em precipitação e seus esbarrões nos ramos de plantas, seguidos de suas passadas rápidas. Os ecos da aterradora batalha pelo reino de Knust Stein foram deixados para trás, assim como toda a esperança do mundo.
     O jovem desbravara a floresta por toda a madrugada. Era manhã de sábado, embora ainda houvesse tamanha escuridão por conta da terrível Sombra da Morte, Skygge. Diante do caudaloso rio Helga, Holger parou estarrecido. Respirava com tremenda exaustão pela longa marcha a noite. Não havia mais chuva. Sobre os cascalhos da margem do rio, olhou para os lados tentando buscar alternavas para atravessá-lo. Sabia que havia uma ponte há poucos quilômetros, no entanto, ir até ela estava fora de cogitação, pois sua vigilância pelos agentes das trevas era certa. Aquelas terras eram um tanto desconhecidas pelo corajoso rapaz. Todavia, explorador que era, Holger não se deu por satisfeito e começou a caminhar beira-rio. Claro que seu destino era contrário a ponte que o cruzara ligando a capital do reino. Holger estava convicto que algum fazendeiro construíra em um ocasião qualquer uma ponte para travessia. Coisa muito óbvia, já que uma única ponte para usufruto de um reino inteiro atrasaria muito as movimentações comerciais.
     Enquanto caminhava, observou coisas estranhas descerem rio abaixo. Parou e observou. Eram corpos. Pessoas mortas e então descartadas como animais imprestáveis. Internamente, o jovem, apavorou-se. Aquela gente não se tratava de soldados, mas sim, de humildes camponeses. Velhos, crianças, mulheres... os homens com melhores condições físicas haviam sido enviados a guerra. Aquilo era assustador. Holger hesitou em profundo dilema. Aqueles corpos na água eram indícios de algum vilarejo e provável meio de travessia do rio adiante. Todavia, eram indícios de tropas escuras. Visto que não tinha qualquer escolha, resolveu manter o curso. Talvez as tropas só estariam de passagem, pensou. De qualquer forma, faria de tudo para se manter desapercebido no terreno.
     Havia sinal de fumaça sobre as copas dos pinheiros. Mais adiante, uma balsa amarrada num pequeno deck. Holger apurou a visão. Aparentemente, não havia sinal de vida. Próximo ao local, fora rastejando até alcançar a corda que prendia a balsa. Um pouco a leste, casas queimadas suspendiam fumaça de um incêndio anterior. O garoto concentrou-se em somente trazer o transporte para si. Vagarosamente subiu a bordo e remou até a outra margem. De olhos no vilarejo, pensou ter visto um morto-vivo. Aquilo o fez arrepiar-se. Jamais tinha visto uma criatura daquela, apenas ouvia as histórias dos guerreiros veteranos, grandes expedicionários que lutavam mundo afora pela liberdade de Volta. Seu próprio mestre o havia contado sobre umas das mais horripilantes criaturas do mal, cuja espada não os matava, nem sequer arrancando-lhes a cabeça. Eram de fato aterradores e assombrosos. Holger escolheu esquecer-se do que havia pensado ter visto e também lembrado. Tais histórias não eram nada encorajadoras numa ocasião como aquela. Na verdade, tentava recordar-se de histórias heroicas do passado, mas as circunstâncias o impediam. Preferiu, então, somente pensar no agora.
     Havia um mundo macabro pela frente. Junto de si, uma relíquia misteriosa, da qual somente os mais sábios e antigos seres tinha ciência de sua existência. Holger tentava imaginar o que encontraria na longínqua floresta ao sul, no entanto, era praticamente impossível. Kristof, nada o revelara. E na verdade, o lendário guerreiro, prevendo sua morte, confiou o objeto ao improvável escudeiro. Kristof era o verdadeiro encarregado da missão, até tudo sair errado. O guerreiro, porém, não previu que entregar o artefato nas mãos do anônimo Holger, não o deixaria a salvo. Tilslore era poderoso na arte da magia. Tinha inúmeros servos e era aliado ao espírito do mal Skygge, portanto, seus olhos estavam em cada canto do mundo.
     O vento gélido começou a soprar. Os rumores sobre o jovem que carregava consigo a relíquia mágica já se viam nos ouvidos das criaturas das trevas e, então, iniciou-se a caçada. Mas, havia luz ao sul... da antiga floresta, um bem há muito esquecido, conspirava a favor do jovem Holger, sem nem sequer o garoto imaginar, embora, o perverso Tilslore desconfiasse de algo. Porém, tal poder era tanto perante a Magia Negra, que o Mago das Trevas não ousou perturba-lo, por pensar que tal magia dormia profundamente, fazendo com que não causasse qualquer tipo de problema a si. Estava enganado! Havia um quarto membro além dos três... uma criatura tão antiga e tão improvável, que foi mantida em sigilo pelos Reis Magos conforme as ordens divinas do Pai Celestial. A criatura, o ser mais próximo ao que era considerado divino, fora forjada da Luz de Prata encontrada no interior do coração do Grande Far, Senhor do Universo. Desta forma, os Reis Magos se referiam a ela como A Feiticeira de Prata!
     Holger pisou os pés do outro lado do rio. Uma força inesperada e misteriosa o havia tomado de repente. O cansaço se esvaiu. Os olhos brilharam em esperança. Pela primeira vez em dias, o jovem sentia-se observado e resguardado por uma magia benéfica. Sabia de alguma forma que estava blindado contra os ataques das trevas. E de fato, não somente criaturas malignas cruzariam seu caminho, mas também criaturas de luz... antigos guardiões da esperança! Seres esquecidos pelas areias do tempo. Cavaleiros que lutaram em guerras imemoráveis. Tudo estava para acontecer. E no fundo, Tilslore armazenava uma angústia miserável. Retornou, então, as terras sombrias de Svart Jord afim de aprofundar-se em conhecimento para combater a possível ameaça. Profecias estavam para ser reveladas... a Magia Negra via-se comprometida!





Continua...

     








quinta-feira, 5 de julho de 2012

Jurassic Park - Caos Continental (Prólogo)


Carne Nova no Cardápio


     
     O helicóptero seguia baixo em alto mar, o vácuo e a ventania de suas hélices e motor atormentavam as águas que refletiam a luz amarela do sol.
     Havia vinte minutos desde que deixaram o heliporto de Puerto Cortés, depois de muito esperarem por Diego, o guia. Diego era um rapaz de vinte e três anos, moreno, queimado do sol e já tinha estado quatro vezes em Isla Sorna, mas nunca arriscara-se a adentrar a selva sinistra.

     Pertencia ao povo local da região montanhosa da costa, uma comunidade crente em mitos e lendas nativas e que chamavam o arquipélago de “Las Cinco Muertes”.
     Inúmeros rumores rondavam seu povo: “um conhecido meu desapareceu em Las Cinco Muertes!”, “meu tio atreveu-se a ir lá após perder uma aposta no baralho, nunca mais foi visto. Culpam a bebida por isso.” Bastava uma pequena roda de amigos, e lá estava o assunto “Las Cinco Muertes”!

     Não saía da mente de Diego quando, após escalar as encostas da ilha, levando sua mochila e guiando um americano rico, algo os atacou enquanto repousavam às margens de um riacho. Não conseguira ver o animal, apenas ouvira um estranho rugido e o berro ensurdecedor do americano, que foi se distanciando... Sem pensar duas vezes, Diego correu sem sequer olhar para trás. Ele zarpou em seu pequeno barco de pesca. Estava sujo de barro e com rasgos na roupa, tremia e murmurava suas rezas. Retornou à costa sozinho naquele dia. Ninguém duvidava das causas das mortes que ocorriam naquele arquipélago...

     Depois do episódio em San Diego, o governo da Costa Rica obrigou-se a restringir visitas às ilhas. Entretanto, mesmo sendo um projeto secreto, as notícias das ilhas com os dinossauros se espalharam rapidamente pelo globo. Muitos foram contidos... Mas, não tiveram como conter o grupo que se encontrava no helicóptero. 

     Mesmo que não tivessem conseguido uma autorização e passado pela burocracia assumindo todas as responsabilidades, iriam para lá como clandestinos. Estava fora de seus propósitos não verem o que era seu maior sonho. Paleontólogos, como o respeitado Dr. Alan Grant, que se recusara a participar do projeto, estavam ali presentes. James Williams, 32 anos, saíra rapidamente do anonimato do mundo acadêmico com suas pesquisas de extração de DNA de fósseis bem conservados de pterossauros na Chapada do Araripe. Junto com a equipe brasileira de paleontólogos, conseguira aumentar consideravelmente a coleção de fósseis do país. 



George Kaplan, que estudara com Dr. Grant no passado e havia se especializado em hadrossaurídeos, deixara um sítio recém-descoberto no interior da Mongólia com dezenas de ninhos e ovos de uma aparente nova espécie de hadrossauro, para estar no grupo desautorizado a entrar em Isla Sorna. Hanna Morris se apaixonara por dinossauros desde o grande sucesso no cinema do filme Terror Jurássico, do diretor Steve Stevenson, o que a motivara, desde a adolescência a trabalhar como voluntária em algumas escavações. 


Hoje, aos 30 anos, tinha ficado famosa ao descobrir evidências de melanossomas em um novo fóssil de Velociraptor com possíveis plumagens, o que poderia levar à descoberta da real cor desses animais. Gabrielle Rice, a mais jovem do grupo, deixara o estereótipo de loira desejada ao ter seu projeto de inversão de espécies de aves em dinossauros aprovado pelo grupo de pesquisas genéticas e biologia molecular do Smithsonian. Seus primeiros testes já tinham data marcada para iniciar. Mesmo que sua pesquisa apresente resultados finais positivos, ela sabia que, no fundo, não seria um dinossauro genuíno, assim como os da InGen também não eram.

     E o último do grupo era o biólogo francês Laurent du Lac, autor do livro “A Migração da Ararinha-Azul Brasileira”. Junto com James Williams, já haviam discutido o assunto “Sítio B” quando estiveram no Brasil.
     A sorte havia sorrido para o grupo quando puderam contar com a companhia de Marty Guitierrez, que contatara Alan Grant após o incidente no Jurassic Park, enquanto todos os envolvidos não podiam sair da Costa Rica. Guitierrez foi o primeiro de fora do projeto a ficar ciente da existência dos dinossauros ao encontrar próximo à praia, um exemplar de Procompsognathus triassicus. Depois disso não descansou até poder visitar a ilha e nem pensou em recusar a proposta. 



Após dezesseis anos teria a chance de ver e estudar os animais que há muito estavam extintos, e que parecia que estavam ali, vivos e se reproduzindo! Guitierrez não conseguira arrancar muita coisa do Dr. Grant, afinal, todos os envolvidos foram obrigados a assinar um termo que proibia a divulgação dos verdadeiros fatos. Mas ficara sabendo que muitas espécies haviam sido recriadas. Espécies incrivelmente maiores e mais ferozes do que o espécime descoberto por ele.

No fundo, isso não o preocupou. Trabalhava há muitos anos como guarda de caça na reserva em Cararas. Estava acostumado a passar longos períodos no meio da floresta e tinha experiência em sobrevivência na selva.Era bom ter um homem assim por perto, afinal, afora o francês, todo o restante do grupo trabalhava praticamente no meio do deserto, ao relento e cavando a terra. Marty Guitierrez trabalhava com uma arma, os cientistas com um cinzel. 


     Ouviram a voz do piloto dizendo que em poucos minutos estariam se aproximando de Isla Sorna. Seriam deixados no heliporto do prédio de comunicações da arruinada InGen, na Vila dos Trabalhadores. A partir daquele local, poderiam seguir para qualquer ponto da ilha seguindo as precárias estradas ruídas pelo tempo. Hanna ficou olhando enquanto o helicóptero sumia sobre as copas das árvores causando um forte vendaval que espalhara folhas e muita poeira. 


     A equipe combinou que o piloto voltaria para pegá-los no dia seguinte às dezessete horas. O grupo permaneceria na ilha por trinta e duas horas. Teriam muito que caminhar e ainda procurar um lugar para passar a noite. Com certeza não permaneceriam na vila, pois queriam chegar logo ao descampado e ver os animais de longe antes de uma aproximação.


Estavam todos eufóricos. O maior sonho de suas vidas poderia ser realizado a qualquer instante. Com suas mochilas nas costas, seguiram para o interior da ilha por uma estrada com alguns sinais de pavimentação. O mato havia reestabelecido seu lugar.


Apesar de Diego não ter estado naquela parte da ilha antes, era importante para a equipe um nativo habituado àquele tipo de ecossistema de clima tropical. Mais à frente a passagem foi interrompida por um grande deslizamento de terra, e teriam que entrar na floresta para cortar caminho. Os imprevistos começavam...
     Avistaram uma grande clareira que fora aberta na vegetação, criando um túnel feito de mato, folhas amassadas e pequenas árvores derrubadas.

     - Padrão de animais andando em fila indiana. – comentou Laurent.
     - Com toda a certeza são herbívoros – sentenciou Willams, agachado ao lado de uma pegada.
     - Essa trilha parece ser usada com freqüência – disse o guarda de caça- Não me espantaria se topássemos com algum animal no meio do mato logo à frente. Mesmo animais de grande porte podem se camuflar na floreta.

     Gabrille, no final da fila, sussurrou assustada:
     - Pessoal, prestem atenção! — todos pararam. Imóveis.


     O vento trouxe o som inconfundível de uma respiração profunda, como se algo os espreitasse detrás das folhas úmidas. Diego levou a mão suada sobre o rosto pálido no mesmo instante em que um frio lhe corria pela espinha. Já havia sentido esse pavor antes. Não havia como esquecer.

Continua...

Jurassic Park - Caos Continental (Teaser Book FanFic)

segunda-feira, 2 de julho de 2012

"Agora sim teremos um Jurassic Park III"

Conto - DinoFort, Missão: Morte

     
     O ano era 2042. Meus avós mal sonhavam em nascer. O mundo vivia uma nova era. Era um tempo próspero e de inúmeros avanços econômicos, sociais e científicos. Numa tarde de domingo, segundo os arquivos, fora publicado o mais improvável num periódico da revista Nature. Um físico francês chamado François Abraham havia rompido o tempo. Aquilo definitivamente entrou para a história como a maior descoberta científica de todos os tempos. E como toda grande descoberta, não faltaram controvérsias. Protestos de partidos religiosos por todo o mundo. Abraham tornou-se o "Anti-Cristo" para muitas pessoas e por outro lado tornou-se o próprio ''Deus'' para a comunidade acadêmica. As coisas se acalmaram com o decorrer do tempo e a descoberta logo caiu no esquecimento alheio, as pessoas se habituaram depressa, pois como eu disse, os tempos eram outros.

     Havia muito que se pesquisar ainda. Não demorou muito para novos pesquisadores se juntarem a Abraham. Não somente doutores em exatas, mas também em humanas e biológicas. O modelo experimental de François Abraham era capaz de abrir uma ruptura no espaço-tempo de modo a criar uma simples janela para o passado. Na ocasião, viagens no tempo eram ainda complicadas. Incertas. Não arriscariam. E desta forma, assim como todos os grandes nomes das ciências, François Abraham deixou para as futuras gerações seu legado. Foram dezenas e mais dezenas de publicações até a data de sua morte, em 20 de janeiro de 2090.

     Era 2173. Nicolas de Barros, um físico brasileiro, liderava o experimento "Túnel do Tempo" em Hong Kong, China. Em 12 de junho daquele mesmo ano, enviaram um robô há 4,8 bilhões de anos, nos primeiros instantes da Terra, no alvorecer do majestoso Sistema Solar. O robô Abraham-426 retornou ao ano presente com amostrar incríveis de rochas de um planeta disforme em plena formação. Tal feito fora comemorado com extraordinária euforia! Nicolas de Barros, então, quis mais. Queria uma equipe de expedicionários para desvendar os maiores enigmas do mundo e tampar definitivamente todas as lacunas deixadas ao longo da história da ciência. E tal projeto começaria pelas Ciências da Vida!

     Cinco anos depois uma equipe fora escalada. Missão: Era Mesozoica, final do período Cretáceo. Uma tropa composta por seis biólogos de diversas áreas, uma geóloga e um esquadrão militar de elite liderado por mim - tenente coronel Ferrone - partiu para seu destino a bordo da nave Ark. 60 milhões de anos mergulhados no passado sinistro da Terra, onde o que chegava mais perto de um ser humano não passava de "ratos" esguios em seus refúgios entre fendas de árvores e rochas ou debaixo do solo úmido.

     Houve um violento protesto da SCG - Sociedade Científica Global. Eles eram do governo, o contrário de nós... sim, todos os direitos de François Abraham foram privatizados há cerca de 30 anos. Uma punhalada nas costas dos burocratas governamentais. A bancada explanou com argumentos técnicos os perigos de uma viajem no tempo. Diversos modelos matemáticos estavam anexos no dossiê, entre eles, a Teoria do Caos, tal como o conto de Ray Bradbury, Um Som de Trovão, cuja ideia diz que uma insignificante alteração num meio pode desencadear uma catastrófica reação num futuro distante em outro meio - o "Efeito Borboleta". E o mais assustador... é que a bancada da SCG estava certa de alguma forma.

     Aterrissamos em terras desconhecidas. A selva era densa, o clima estava ameno e úmido. A atmosfera era tomada por um extenso enevoado causado pelo dióxido de carbono e o metano. Havia por toda a parte uma vegetação densa banhada em caprichos. Uma selva sinistra com ares de grande hostilidade. A maioria das plantas era descaradamente armada de enormes espigões, um alerta aos predadores: “não se atrevam a nos devorar!”. Outras, porém, eram mais traiçoeiras. Eram as mais belas de toda a floresta, coloridas e cheirosas, eram convidativas a qualquer criatura com vida, ainda que tal criatura desejasse somente apreciar sua beleza ao invés de querer devorá-las por sua saborosa aparência. Mas no fim, um pólen venenoso exalava-se de seu interior, ou uma espícula mortal revelava-se dentre suas pétalas sedosas, ou então, a seiva que as mantinha vivas tinha o poder de por abaixo as mais brutais criaturas que habitavam aquela selva. Uma selva primitiva de tempos distantes, imemoráveis. Ela ficava a sombra de um imenso vulcão que não parava de exalar uma gigantesca nuvem de fumaça escura. Atrás do monte ardente, pelo menos outras duas dezenas de vulcões hasteavam colunas de vapor e enxofre aos céus, formando uma cadeia em atividade simultânea.

          Sobre o mar esverdeado das copas fartas de folhas daquelas arvores gigantes, estranhos longos pescoços dotados de pequenas cabecinhas reptilianas emergiam a todo instante para abocanhar generosos punhados de vegetais e afundavam novamente na escuridão da floresta abaixo. Às vezes rugiam ensurdecedoramente, coisa que chamava atenção de outras criaturas, com semelhante estranheza, que se aninhavam do outro lado, às margens de um largo e sinuoso rio que rasgava aquele rico habitat verde. As bestas, temerosas por suas crias, esticavam seus pescoços aos arredores para garantirem que tais rugidos não pertencessem a nenhum predador.

          Aquele era um mundo caótico, regido apenas por uma única lei: a sobrevivência!
          As bestas reptilianas dominavam soberanamente desde os mares mais profundos às mais altas nuvens dos céus. Uma fauna e flora onde só os mais aptos sobreviviam. Onde uma carcaça já apodrecida pudesse ser alvo de disputa de dezenas de carnívoros sedentos de fome, ou um reles ramo de folhas frescas serem motivo de um duelo mortal entre dois gigantes escamosos, ou então, um simples desejo de saciar a sede a beira mais rasa de um lago poderia custar o pescoço de uma ingênua e infeliz criatura, por este motivo fútil, talvez, apenas molhar a garganta.

          Estavam por toda a parte. Em pequenos grupos, em incontáveis manadas, ou errantes solitários buscando apenas o dia de amanhã. Eram os donos da Terra. Estávamos em meio aos dinossauros, num mundo fantástico, e pela primeira vez eu percebi o quão frágeis somos nós, humanos, pois viver em meio àqueles animais, era fora de cogitação, mesmo com todo nosso avanço tecnológico e nosso "divinizado" cérebro de grande primata, aquelas criaturas eram incríveis, eram deuses na Terra, seu caminhar era digno de majestade, digno de poesia... absolutamente. Foi então que tudo fez sentido, digo, tudo aquilo endossado pela SCG, do qual a Companhia Science Future derrotou nos tribunais graças a generosos subornos pagos aos advogados corruptos do governo e ao seu juiz.

     Aconteceu na manhã de nosso quinto dia de missão. Foi mandado que coletássemos amostras de todo o tipo de organismo e rocha. Uma câmara criogênica no interior da nave armazenava pelo menos setenta ovos de cinquenta e quatro espécies de dinossauros, plesiossauros, pterossauros, crocodilos e mamíferos ovíparos, havia algumas serpentes e lagartos também. Amostras de sangue, sementes de plantas, tudo para pesquisas.

     Estávamos embarcando os equipamentos de comunicação quando de repente ouvimos gritos vindos da floresta. Em segundos preparamos os armamentos e corremos em socorro. Chegamos no local e a cena não era das melhores. Meus homens e eu nos sentimos dentro de um filme de horror. O capacete do biólogo Leonel Pontes estava estilhaçado no chão barrento, havia manchas de sangue por todos os lados. Vimos as pegadas no solo e as seguimos em extrema cautela. Na pressa, havíamos deixado o radar para trás. Tudo que tínhamos eram nossos sentidos biológicos. Silencio! Um vulto adiante seguido de um grunhido. Não tinha ideia do que estávamos lidando. Sabia que era era um dinossauro, sabia que era predador. Eficiente pelo visto. Marchávamos em formação de patrulha em meio a uma trilha cercada de grandes coníferas e carregada de ramos de densas samambaias. Paramos por um instante. 


De repente, algo saiu do mato cruzando a trilha como um trovão. Mal deu tempo de fazer a pontaria no alvo de tão rápido que foi aquilo! O coração estava a mil. Então, o sargento Malaquias perguntou sobre um dos nossos. Nos demos conta da falta de um. Tatsumi havia sumido... havia sido predado pela feroz criatura. A tropa abalou-se e todos estavam prestes a perder o equilíbrio. Quanto a mim, fingi manter a calma para não influenciar o desespero. O cabo Vigo, então disse ter avistado algo a nossa direita, no mesmo momento Malaquias afirmou um alvo em movimento na retaguarda e, eu, encarava uma fera bípede de três metros de altura, armada de dentes serrilhados, garras enormes nos membros posteriores e nos anteriores, outras garras em forma de gancho. Havia sangue na boca daquele animal. Os olhos eram grandes e macabros. Pedi calma aos soldados, mas eu mesmo estava prestes a me borrar. 


O simples ato de respirar daquele animal me amedrontava aterradoramente. Minhas pernas estavam fracas, eu não conseguia correr. Me senti um rato prestes a ser predado por uma serpente. O dinossauro de uma cor grafite e dorso escarlate caminhou em minha direção. Me olhava firme, pois me queria a todo custo. Eu era a presa da vez e aquele meu aterrador predador. Fechei os olhos e esperei o pior.

     Malaquias gritou e descarregou o fuzil no animal freneticamente. Abri os olhos e vi sangue jorrar na viseira do capacete. Vigo me puxou pelo cilindro de oxigênio e então corremos como se não houvesse o amanhã. Tentava contato com a nave desesperadamente, mas não obtive resposta. Quando ousei olhar para trás, enxerguei pelo menos  quatro caçadores incrivelmente velozes nos perseguindo. Eles rugiam e guinchavam como se estivessem furiosos e sedentos por nossa carne fresca. Consegui avistar a Ark com sua rampa de embarque ainda aberta. Subimos nela enquanto se elevava. Atiramos nas criaturas para as impedirmos... a rampa fechou-se enfim.

     Tiramos os trajes pesados e sentamos no chão. Estávamos exaustos. Não acreditamos em tal situação. Era como se algo conspirasse contra nossa equipe. Justo no ultimo dia, aquilo... logo me veio à cabeça a Teoria do Caos seguido de um arrependimento agonizante. Mas, não era o fim... tínhamos em posse uma máquina do tempo. Foi nessa ocasião que levantei recobrando a esperança. Corri até a cabine de comando junto do restante da equipe... meus olhos então arregalaram-se. Um frio intenso me percorreu a espinha. Minhas pernas paralisaram como em outrora. Havia cheiro de morte no ar. O chão, os painéis de controle, as paredes, tudo jazia banhado em sangue. Ouvi, então, um sibilo penetrar-me o ouvido esquerdo. Meus músculos se contraíram e os pelos de minha epiderme eriçaram-se. Fechei os olhos e apertei os dentes com força. Os passos do réptil vindo no meu flanco soavam como tambores de guerras épicas. Senti a boca escancarada do animal e seu hálito quente e úmido  cheirando a podre. Era cheiro de morte. Morte... foi a certeza que tive naquele momento.



Fim.